A crise é um tempo de oportunidade. As grandes lições da vida são
aprendidas no vale. O deserto é o cemitério dos covardes e incrédulos, mas
também campo de semeadura e treinamento para os que confiam nas promessas de
Deus. É no deserto que as máscaras caem. O deserto não é lugar para atores. Os
hipócritas não sobrevivem a ele. Os lobos acabam colocando as unhas de fora. A
crise é o crivo que separa o joio do trigo. É no cadinho que o ouro se
distingue da escória. Só na tempestade ficamos sabendo se a casa foi
construída sobre a rocha ou sobre a areia.
Deus levou o povo de Israel
para o deserto para saber o que estava no seu coração (Dt 8.2). O deserto
diagnostica os desígnios do coração, as motivações profundas da alma. Obedecer
quando tudo está bem não é difícil. Crer em Deus em tempos de prosperidade é
fácil. Dar testemunho da fidelidade de Deus quando as chuvas de bênçãos do céu
estão caindo generosamente sobre nós não é difícil. Somos chamados a obedecer
em tempos de crise. Somos convocados a crer mesmo que o cenário à nossa volta
esteja pardacento como um deserto.
Os amigos de Daniel na
Babilônia ousaram confiar em Deus não por aquilo que Deus fazia, mas em razão
de quem Deus era. Eles estavam prontos a ir para a fornalha de fogo ardente,
mesmo que Deus não quisesse livrá-los do fogo.
A fidelidade a Deus independe das circunstâncias. Daniel preferiu a morte na
cova dos leões a transigir com sua consciência. José do Egito preferiu a prisão
ao adultério. João Batista estava pronto a perder a cabeça, mas não a
integridade do seu ministério.
Isaque também é convocado a
obedecer a Deus no fragor da crise. O Senhor tem duas ordens para ele.
Primeira: "Não desça ao Egito" (Gn
26.2). Não fuja do problema. Não busque soluções fáceis. Não
ensarilhe as armas. Não corra do perigo. Não negocie seus valores absolutos.
Não desista de seus sonhos. Não deixe de esperar um milagre. A segunda ordem
foi positiva: "Procure estabelecer-se na terra que eu
lhe indicar" (Gn 26.2). Floresça onde você está plantado.
A solução do problema não está em mudar de lugar, mas em mudar de atitude.
Agarre a crise pelo pescoço. Enfrente o seu gigante. Prospere no seu deserto.
Invista em tempos de crise. Creia em Deus
quando todos estão batendo em retirada. Não desanime, continue esperando.
Isaque não discute, não
questiona, não racionaliza, não duvida. Ele obedece prontamente, pacientemente
(Gn. 26.6). Deus o manda ficar, ele fica. Deus dá uma ordem, ele obedece. A
obediência imediata abriu-lhe a porta da esperança. Ele prosperou naquela
terra. Ali ele viu milagres extraordinários acontecendo. O nosso triunfo é
resultado da nossa confiança em Deus. É Deus quem transforma desertos em
pomares e fracassos em vitórias. É ele quem faz dos nossos vales verdadeiros
mananciais.
Muitos transformam os
desertos da vida em campos de murmuração. Outros ficam empapuçados de amargura
contra Deus ao enfrentarem as privações naturais do deserto. Há aqueles que
perdem a paciência e querem botar logo os pés na estrada que desce ao Egito. Há
ainda os que acham que o melhor é morrer no deserto. São aqueles
que se entregam à auto piedade. São fracos, covardes, incrédulos. Só enxergam
os problemas, sem divisar soluções. Só vêem os gigantes,
mas não a onipotente mão de Deus. Perecem no deserto e não conseguem entrar na
terra prometida.
Mais do que nunca precisamos
de pessoas que tenham a visão do farol alto. Gente que enxerga por sobre os
ombros dos gigantes, que não desanima ao sinal da primeira dificuldade, que
não entrega os pontos nem joga a toalha, fugindo do combate. Enfim, gente que
anda pela fé e não pelo que vê. Os visionários caminham quando todos estão
parados. Os vencedores são aqueles que não vivem choramingando por causa da
crise nem colocando a culpa no sistema, mas semeiam no deserto e colhem a
cento por um. O mundo está carente de homens e mulheres que ousam crer em Deus
em tempos de crise, pessoas como o profeta Habacuque, que se alegra em Deus
mesmo no vale mais sombrio da história. As pessoas que triunfam na vida fazem
do deserto um campo de semeadura, e da crise, uma oportunidade.
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